segunda-feira, 15 de outubro de 2012

sobre a flor e a náusea




as minhas flores e a minha náusea.
o meu campo e a minha colheita. os meus olhos e as minhas lágrimas. o meu suor e minha vontade de explodir meio mundo. o meu ódio e o meu rancor [confusos]. as minhas desculpas e as minhas saídas.
o meu pavor e o meu conforto. os seus ganidos e a sua insistência. o meu amor e as minhas promessas.

#1

pegá-la pelo braço numa situação confusa e cobrá-la amor aquela hora seria meio inapropriado. ele na verdade não fazia idéia do quando incoveniente seria na vida daquela moça. sem passado. somente com um vale misericórdia no bolso e a passagem de volta pra casa. ELA [desatinada, impulsiva, fora de controle] descobrira que o mundo numa implosão resolveria todos os seus problemas numa questão minutos, minutos de macarrão instantâneo, ela, que comemorava uma perda parcial de memória, não imaginaria que as artimanhas do destino lhe preparavam uma bruta cilada, bem na virada zilionésima da catraca do livre-arbítrio. ela. que aprendeu a não amar por prudência. a rejeitar por defesa. a cultuar plástico e comer merda. Ela. que seria o subproduto do medo. cultivado em boa estação, tenro e absoluto. Ela. que só podia e só sabia olhar pra si. dimensão maior do umbigo que o reflexo turvo do espelho casto iluminara. Ela. que tinha ambição desproporcional a coragem, medo desproporcional a ousadia, cal desproporcional ao lago  de lágrimas. por que o mundo vinha cobrá-la todos os dias, no mesmo horário as mesmas cobranças. Ela. que aprendeu a fugir, aprendeu a mentir e aprendeu a matar. rápido, muito rápido.

#2

o nojo. o pavor. a cozinha banhada de sangue e um cenário digno de filme que o amigo deveria dirigir. estavam lá o cozinheiro, a faca e a folhagem. a cerâmica branca embala a cena, o vermelho, numa ambivalência incólume, guardava pra si a vida e a morte, o pavor do sangue espalhado pela cozinha do restaurante seria sufocado pela doçura criminosa do corte afiado. não importa quem matou, quem morreu, a conta não fechava e o sangue do cozinheiro tinha uma beleza singela, ingênua eu diria. crua e ingênua. e a alegria do cozinheiro era inigualável. parte de sua vida escorrendo num ralo asqueroso e outra parte céu. Ele tinha um pedaço de céu entre os lábios. alguns dizem que ele era um anjo. um anjo que tinha gordura no cheiro, cicatrizes perfeitas e um coração de manteiga. certamente um anjo.

#3

a garçonete feia. a risada que incomodava. tudo nela incomodava e ninguém sabia olhá-la com a devida tristeza que ela pedia. ela pedia uma tristeza ímpar, ela queria compaixão do mundo, ela queria não ser ignorada. deixar que cada noite amarga caísse rápido pra ela sair daquela dança horrível, daquela sujeição ridícula. convencia-se a cada minuto que realmente era preciso sorrir. era preciso estar convencida que era feliz e realizava-se a cada ponto na comanda. ela. subproduto da merda. ela. passarinho feio, com canto esganiçado e um sorriso torto. ela precisava ser. algo. alguma coisa. menos aquela menina feia, triste e infeliz que refletia no espelho do banheiro de funcionários com entrada restrita.


#4

 amanhece

 e  tem um rock alternativo na caixinha, tem aniversário e uma noite de sono em claro.

nada de festa.