terça-feira, 3 de novembro de 2009


hoje pela manhã pensava que alguma coisa me traria uma alegria. ledo engano. entardeço e anoiteço procurando. quadro vazio. moldura de anjos. uma vil dispensa de elogios. um fardo de cupins me roendo a coluna. uma gama de assuntos desinteressantes. saí à porta e percebi o fim da chuva. meu seio levemente arranhado. uma culpa me espiando. um bode vermelho. um manto sagrado me protegendo da frieza dos outros. seguia o dia e eu ainda tentando encontrar um vestígio de felicidade, podia ser uma alegria tímida, em tempos difíceis algumas coisas mudam de valor. de juízo. de lugar. andar sozinha ao sereno continua um resquício de solidão. minha mãe dizia que o que não se aprende pelo ensinamento se compreende no sofrimento. andei reparando a lentidão da chuva junto às luzes e à mancha de uma rua ilhada. alguns mortos embaixo do colchão. um conto sem final. um amigo falso. uma luz artificial. um mendigo pedindo passagem. meus olhos na janela do sótão. meu apertado blues de galeria. uma insônia que me atormenta o dia. o grande querido dos sonhos que faltou em boa hora. alguns versos perdidos. algumas notas amargas e receitinhas de auto-suficiência. minha decadência lúgubre. meu lustre de latinhas. sono no parapeito. me enforcaram no calendário. pediram mais dedicação. engoli algumas coisas pra não parecer que a errada sou eu. e aprendi boas maneiras pra não passar vergonha. por que é muito importante uma pessoa aprender onde cabe, onde é bem vinda e principalmente, onde é amada. meu quarto continua vazio, minha cama fria, quase mofando, e minha lágrima não desce.
acho que hoje eu morro sozinha denovo.
não sei se isso vai ser pra sempre. ou se isso é abandono de Deus.
a chuva vai embora e minha calçada tem limo. copiei as chaves. entreguei o imóvel.
percebi a solidão me esperando com um cigarro aceso na cama. a maldita nunca erra no relógio.