quarta-feira, 8 de dezembro de 2010




se eu morrer de tísica, é pelo fato de não me preocupar com as pancadas de chuva, por não me preocupar com a fumaça dos automóveis e das chaminés bípedes acopladas a minhas vias aéreas, por não saber dosar, limitar, escamotear, subtrair, dividir, convencer e até mentir a tempo e a hora. a torto e a direito. que sinto um pesar nos flancos, um medo inconcebível de morrer e um ódio profundo por quem não me quer bem.

posso adiantar, que se isto se parecer com um testamento, minhas constribuições foram insignificantes para esta vida. e não se trata de uma falsa modéstia, trata-se de uma constatação. calculada. mais precisa que o grau de alcance das lentes de um atirador de elite. poderia eu morrer de vários males. levar ao caixão um bocado de bobagens>flores coloridas >mensagens e agradecimentos >hoje não >aqueles salgados e aqueles almoços subtraídos >a má percepção> o cão que me chutou na rua > a umidade diária >hoje não quero pensar na morte como possibilidade tangível. >preciso de ar.