quarta-feira, 29 de agosto de 2012

uma carta pra amanhã








a arte de não misturar as coisas. do tempo que passou para o que ocorre no presente momento, dá-se um recorte temporal caótico e fantasmagórico. eu sei que você confia a entidades nosso caminho secreto. e isso é bonito. eu sei que eu estava errada e não vou insistir na teimosia. you win! só não me despedacem eu peço. não me arranquem pedaços, sangue, roupa, dor, qualquer outra coisa.
sinto falta da minha casinha, do muquifo que eu morava, era úmido, pequeno e escuro. excelente para a proliferação de mofo  e ácaros. era o meu pedaço. meu território. minha proteção. mas não me arrependo das outras escolhas não. não. não não não. a confusão mora noutro bairro. e minha cabeça vai rolando. quicando escadas, martelando sinais, operação confusa. sina de Prometheus. ainda não consigo ligar pontos e vias concisas. ainda fico perdida. ainda tateio no mapa a atenção das pessoas. o afeto do mundo. minha mãe se preocupou comigo ontem e eu não podia mostrar pra ela a falta que eu sinto. eu não pude mostrar pra ela que eu não me encontro no momento. que eu estou fora da área de cobertura em trânsito alucinado. que está bem difícil ficar sem um abraço, sem a voz dela pedindo pra eu ficar mais um pouco e fazer alguma coisa por ela. eu fazia muita coisa por ela e deixei tudo. eu deixei tudo pra trás. eu tenho o peso disso nos olhos. quando as crianças brincam aqui perto o som é maravilhoso. elas brigam e resolvem tudo de maneira muito prática.
queria que amanhã eu desse conta do meu trabalho e de não me importar com a opinião das pessoas, que meu casulo estivesse intacto e minha confiança inteira. queria confiar, queria mesmo confiar denovo, apostar denovo, acertar denovo, pedir umas desculpas, pegar a pista livre pra um bom voo. mas o peso é maior, e o que os outros fazem e pensam interfere sim em tudo. só não me machuquem eu peço. não me arranquem nada. eu imploro.
vou fazer minha lição de casa e não tenho outra chance de erro. tenho que consertar uns vasos aí, restaurar minha cara de pau, dar um brilho numas frases e dimensionar uns espasmos. vai ser bem difícil, mas eu vou dar conta. degrau a degrau. uma coisa de cada vez. lembra dos seus planos? sua casa de marfim, seu jato supersônico, do jardim de inverno? você precisa acordar, acordar forte pra viver amanhã. 

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