segunda-feira, 16 de março de 2009

La vida es linda, Pibe,




o tumulto que ocupa meu peito não dá espaço à ausência.
sem circunstanciar a dor. estamos atravessando o Lago Bolchevique
balas no céu. tiros no escuro. figuras repetidas.
perdição momentânea. precisamos conversar, Pibe,
preciso lhe contar a magia do inesperado.
preciso me desfazer do caminho roto,
da sujeira grudada,
da dor presumida,
do medo oportuno,
da rua deserta e suja,
da poesia na esquina,
girando, girando, girando
assegurar-me de nada,
descansar
contar uma história falsa,
fugir da polícia,
beber no bar mais sujo da cidade
contemplar tão-único-somente
contemplar teus olhos curiosos, Pibe
contar-lhe como ando cansada por aí
pois tive passado limpo
e agora me assusta o vazio
estamos tocando um tango
ando dormindo pouco
correndo muito
ainda servem a tua bebida naquele bar,
tuas histórias de fantasmas são engraçadas
me embebedam de medo
lhe disseram algo sobre a dor daquela mulher de vermelho?
todos os dias no mesmo homem.
quando ele disse que precisava se casar
ela fechou os olhos,
guardou a única lágrima que conseguia naquele momento
e numa rima fácil
entendeu que amor também é dor
e dor de amor não tem cura
não cicatriza.
lhe embebedam os flancos
sai tropeçando na própria estupidez
mujeres vermelhas são estúpidas, Pibe
mujeres vermelhas amam em demasia
pertubam e sofrem mais que cães abandonados
no canto dos olhos ela guardou a lágrima
pra um lugar escuro, onde tocava um tango
melodia reincidente, por una cabeza
perdeu-se. por completo.