segunda-feira, 9 de maio de 2011

o canto da sereia




escuto debaixo do chuveiro. por horas a fio vou tentando cifrar o que ela quer me dizer. primeiro ela me lembra dos artefatos hodiernos, da curva que meu destino prepara. logo quando passa a primeira hora já começo a lembrar que a resistência é frágil, que posso ficar constipada, que sobra, sobra gordura, meus pés incham, minha vaidade é soberba, alegórico desejo de potência. Banho de Cleópatra. Sem sais marinhos. seco meus pés e já nem sei como nem quando comecei. Aqueles banhos demorados me deixam com a alma úmida. Vou passar a semana inteira sozinha. Quem sabe o mês. Não tenho previsão de volta. Continuo tentando secar meus olhos, escrevendo cartas, acompanhando o noticiário e esperando o ônibus pra Califórnia Dreams.


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