sábado, 6 de agosto de 2011

amargo santo

boca amarga, garganta seca. quase todos os dias. olhos largos. paisagem limítrofe. náuseas. me contorço em dores. exalo cheiros estranhos. conto os vermes me sugando o seio. e volto-me a contemplar a árida paisagem. você me custou dois torrões. torrões de açúcar que eu fabricava embaixo da língua. você me custou semanas inteiras de sono. cegou meu pulso. despiu-me em plena quarta de cinzas. eu, hoje, pássaro machucado, manca, suja e pequena no canto da cama. eu, hoje, metade em cacos, embotada, desejo um mal equivalente. você me enfeitiçou. já não consigo colocar meus calços no chão. escrevi quinhentas cartas. preparei mil despachos. arranhei seu rosto no vitral da memória, comi seu coração com iguarias e macadâmia. preciso ainda sim. ainda sim. acabar com qualquer resquício seu. preciso lavar o que restou com água de sal, lavar seu toque, limpar a memória que eu cultivei na pele, abrir sulcos para que o veneno saia, corra, e deixe o puro sumo brotar. Não quero mais lembrar você nas próximas vinte estações. quero um chá de esquecimento, que anestesie minha imensa dependência, meus olhos encharcados de sangue, que me esqueça até da felicidade que me cegou. eu quero e preciso esquecer você. desesperadamente.


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