segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

o que sobrou.


ou enquanto consigo escrever.
aos meus pais, que muito foram irresponsáveis, e às minhas tias do colégio.
na minha cabeça existem dois tempos. um passado estranho e um presente alucinante. movido a café. graças a umas pequenas delicatessen's de memória. minha famíla vai se esfacelando como num passe de mágica. ontem visitei 'a velha casa do engenho' como Dom Casmurro. tentei olhar pro fios aglomerados do poste da esquina e lembrar dos curtos-circuitos que me deixavam com muito medo quando era criança. me apavora a escuridão daquela casa e a idéia de ter ido pela última vez naquele lugar cheio de passado e fantasmas reais. minha mãe sempre afirma que somos mulheres fortes. é uma família de mulheres muito fortes que saem à procura do que precisam sem medo. mulheres de coragem. uma virtude que corre nas veias. algo assim. ainda amanheço procurando estes vestígios no pulso. tudo aquilo revisitado. página de passado. coisas que pedem final. a loucura da minha mãe é tão grande que todos a abandonaram. parece que de caso pensado. como num acordo. eu vejo uma mulher de meia idade aflita e sozinha. e pior que pena, vem a maldita compaixão. e eu que não sei dizer não. caio na rede. um peixinho desolado. sem pai. feito Nemo mesmo. toda sacralidade do passado. tudo aquilo embalado em folhas de jornal encaminhados em caixas de papelão. num lugar só de tristeza. não é possível convivência. e vamos deixando de lado tudo aquilo.eu. minha infância perdida. minha insistência em preservar uma lata de doces de quando minha avó era lúcida. todo drama de uma morte prematura. todo pó. toda sujeira. toda maldição lançada pela vizinha. e não me venham com um "pra onde vocês estão indo?" que a resposta é curta e grossa: -não sabemos.
digamos que seja um exílio do passado. talvez a dor do luto. talvez a incopetência do presente. uma série de fatos, transposições de tempo, ocorrências casuais, afetos, apegos, uma única porta de saída. ontem saí 'de casa' chorando. tinha a serenidade de uma tarde de domingo caindo num belo céu de duas cores. talvez a última.