quarta-feira, 31 de agosto de 2011

uma lista e a pulsatilidade intravenosa no deserto




a sacralidade no trabalho das vespas. o câncer. a sessão de lobotomia antes do café. o frio na espinha. a pinça. o cais. o aroma cítrico adocicado do perfume dela. o sal que tempera minha comida. os dias riscados na agenda. a convexa lista de nomes de garotas do sexo produto. do último resquício de amor próprio no fundo do balde de roupas sujas. aquele cãozinho da vizinha que tem os olhos mais doces do mundo. [de tão amado que é] o silêncio da casa. os fantasmas nas gavetas. o lume que faz minha cozinha levitar. o café que esfria em fração de segundos. uma certeza saindo da torradeira. um mar de dúvida afogando uns peixes no mar báltico.

hoje eu comecei a perceber que aquele moço é uma espécie de fantasma que me cegou. Fez tudo que me ocupa árdua morada, palco de uma tragédia anunciada. ensinou que a dor fabricada pulsa no seio, corrói dois músculos, fatia três ossos.

Uma lânguida esperança de tão bêbada bate na janela. Me acorda na madrugada santa de um dia útil, a cidade vai acordando, meus pés atrofiados em teias espessas, hediondas, saem pra passear. É uma manhã com matizes silvestres, carrega um dardo e uma pequena margarida bruxa no bolso. O ciclo da loucura se renova. Faz algum tempo que tento encontrar meus passos. Seguiram uma rua escura e dobraram à esquerda. Nunca mais ouvi dizer da sorte daquele moço.



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