terça-feira, 17 de maio de 2011



velhas convalecenças num pires de atum. hoje vou tarde. É que enxerguei o que não queria. não veria aquela menina tão pequena ter que prestar sua carência à vontade de senhores estranhos. ficaria incomodada em situações normais. talvez estarrecida. não queria ver que faltam zeros à direita e à esquerda. não me disseram pra aceitar isso pra sempre. Ok. pode ser um reclame da consciência, uma tentativa de salvaguarda. preciso mentir todos os dias pelo pão. nada me conforta. não estou satisfeita. não quero morrer cedo pesando o quanto eu amarrei meus cãezinhos serelepes e os privei do gosto duma tarde de mês qualquer. bêbada de poesia. ou mesmo que eles estejam enfeitiçados com o gosto da focinheira. minha lealdade custa uma bagatela. não alimento a coragem faz tempo. vou ficando assim. arredia. velha. de escanteio. sem forma, esquadro, régua, camisa embotada. sem homem no canto da cama. com peso e uma pena nos seios. tristes. hoje tenho seios tristes. em breve os daquela menina também ficarão. tudo é uma questão de tempo. a conformidade. a aparência. o sono. a víbora. tudo é questão de acordo com vantagens, de limites, a safena, a inflação, o medo infantil, a solidão, o pessismo convexo irremediável. que traduz fim. enézima vez que tento. e só sei chorar. deveriam derrubar o muro das lamentações junto com o de Berlim. quando nasci. provavelmente num dia errado.

'Não quero ser a chata da tua poesia' [trecho de música - Fábrica de Animais].

praticarei o desapego.

ao que nem tenho. ao que não alcanço.

ao medo borra-botas que me torna cada dia mais covarde. e imbecil.

***

tarefa: lista de afazeres.