quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

da classificação das coisas e pessoas




dia atípico, lençóis rubros. Me dê sinal de vida do outro lado do Atlântico, monsier.



acredito que agora eu aprenda na marra a escrever. ou a me tornar cada vez mais chata e melhor que isso, uma chata graduada. não pretendo arrotar preceitos ao meu cachorro. nem cão eu tenho. tenho milagres a lançar no mar. e uma idéia sempre torta na cabeça. queria dar corpo, é uma necessidade: uma breve cena. que enterneça a platéia. o que eu quero eu sei. não encontrei o veículo, ainda. mas juro que perco noites de sono. mentira. durmo mal. sonho com isso sempre. não poderia matar esta borboleta síncope na janela de minha casa/porão. Tenho só que reponder por mim e tento. juro. a choradeira é a mesma. não é esse o rumo da conversa. tem uns filmes que eu ainda quero assistir. vou procurá-los e permitir que o pavor entre, faça sua arruaça e caia fora. Tinha tanta coisa pra te contar, eu imaginava que seria tudo diferente. Se você não entende o que eu digo, decifra. isto basta. tanto faz conseguir trocar as passagens ou cancelar um desejo. o botão é o mesmo. a minha vida é que não continua mansa. antes que eu comece a chorar, vou esboçar um sorriso. íngrime. que percorre o lençol, corta o travesseiro e alcança seu sono.

(em algum lugar comum, situação indefinida)

ELA: Meus sonhos estão estranhos.
ELE: Tens sonhado com o quê, minha senhora?
ELA: Com ferrugens, vejo um carro cedendo a uma ladeira, corro pelo mar e nunca alcanço o céu nas minhas levitações.
ELE: é bem provável que estejas sofrendo de um mal não identificado.
ELA: o que pode ser? algo que não resolvi no passado, uma multa, um solavanco mal dado? Sofro de quê, monsier?
ELE: Talvez seja amor.
ELA: (rápida em fuga) Amor não é. É só uma vontade de me lançar no mar, arrancar meus olhos com uma pá, colocar o som no máximo e estourar meus tímpanos, um a um, comer olhos de cabra, salivar sobre um quindim, correr, correr, desesperadamente, talvez eu tente desaparecer. ou encontrar abrigo.
ELE: então é mais é mais grave do que imaginas.
ELA: talvez seja um mal entendido.
ELE: talvez.
ELA: é um mal entendido.
ELE: e se não for um mal entendido?
ELA: me lanço no mar.
3ªPESSOA: Uma decisão não muito acertada, pois a senhora está fugindo. Ao menos que esteja sendo perseguida por algo. Então entenderemos que a senhora tenha o direito de livre fuga, uma decisão calcada no desespero. Entenderemos com toda certeza.
ELA: Não estou em fuga. Acontece que não tenho os mesmos espasmos quando ele me procura. Não volto ao mercado pra sentir o cheirinho das hortaliças, aquele cheiro me enternecia, me ... transportava...como quando comia morangos quase maduros.
3ªPESSOA: A senhora precisa de cuidados. E cuidados profissionais.
ELE: Eu cuido dela.
ELA: Mentira!
3ªPESSOA: muito didático.
ELA: Ele quer me matar!
ELE: NÃO!
ELA: Sim!
3ªPESSOA(como um speaker): É um caso sério, meus senhores, relação díspare de amor embebida a ódio e rancor, mas como os senhores podem observar, ambos não conseguem mais conter ou mesmo abrandar os sinais. Estão distantes de si. E isto importa. A fuga.
ELA: Não tenho mais calafrios. (liga o iPod)
ELE: (colocando os fones) nem tenta?
ELA: muita preguiça. do som, do ar, de tudo.
ELE: acorde então.
3ªPESSOA: A senhora acordando evita uma série de contra-tempos, inclusive aqueles anzóis no percevejo que a senhora jurava não ter visto. Estão na panela conforme havia me pedido.
ELA: Me telefona amanhã?
ELE: se eu conseguir acordar, sim.



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