sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Antes de tomar um Rivotril


(créditos do título: Leandro Bacellar)


queria morar no esquecimento. ignorante. bruta areia no canto de qualquer cômodo.
cifrar a minha canção de despedida. largar o discurso pé no saco. suprir a dispensa.
comer doces bonitos e frágeis e ser levantada por moinhos de vento. sem palavras duras. sem formas obtusas. sem erros. não tenho tempo pra errar. mas também não tenho fome de refeições completas. tempo curto, minha pele também é curta.

queria morar no esquecimento.

um espaço que mora no intervalo, aquele hiato no deserto que eu persigo nos meus sonhos.
admitir minha fraqueza sem me entregar. escutar seu choro a km's de distância.

"amor, saudade, beijo, despedida, um saco de figuras repetidas... tão gastas que já não te dizem mais nada..."

nunca mais falar de mim, não revisitar este in-cômodo.

eu só quero habitar o absoluto esquecimento.
a negação completa, a ausência, o claustro. o velho muro das lamentações.
minha forma incoerente de tentar entender o mundo. fútil, dispensável.


é incrível como a gente deixa o tempo comer boas parcelas do que é bom na gente.
A gente deixa o dinheiro levar, a gente desiste por covardia, a gente nada e morre com flagelação e cena clichê de suicídio na praia. bem film noir.
a gente tem uma ilusão de igualdade, busca um bem alheio, se aninha, se agrupa, espera, caminha, gasta, investe, é retornável, incoerente, incongruente, decepciona-se, lamenta-se, bate o mesmo prego na mesma parede com o mesmo martelo.

talvez eu esteja cansada e aquela peça não tenha me feito bem.

eu só quero morar no cômodo esquecimento.

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