segunda-feira, 7 de junho de 2010

nauseabunda


vou colecionando fragmentos. precisava modificar o percurso e o tom das palavras. precisava parar pra conseguir sentir a falta. reincidente. precisava entrar em algum oratório e debulhar algumas lágrimas. comparando tempos verbais. libretos e esquadros. quadra da alfândega. ameaças veladas e expostas a olho nú. não. eu não. juro que não. servimos bem, para servir sempre. minha família herdou um quinhão de patifarias. herdei a infelicidade da minha mãe. cunhei em mármore as datas e as iniciais do último homem. calei meus dedos descalços no inverno. o frio assombra e torna eclipses lunares invisíveis. a arte de ser invisível. e uma anedota mal contada. um drible no destino. algumas confusões mentais, um bolor servindo de filtro, agarrado às paredes, amarrando meus pés, marcando o tempo na minha pele, servindo de subterfúgio (adoro esta palavra) para mais uma série de desculpas embebidas e flambadas. anotei ontem a data, o horário, o itinerário, as vagas campinas, a metáfora embebida à deboche. novas modalidades. novo gosto. eu não percebi a tempo quando você começou a morrer. e eu não me perdoo por não chamá-lo de pai. é mais uma culpa eu sei. sabe o ardor que o frio provoca no nariz? pra mim é como se fosse o cheiro da morte. ela toma as naridas, queima com o frio. um ardor terrível. e nós. aqui. brincando de imortalidade. que isso não ofenda ninguém.


*05/06/2010 - casa nova, mesmo endereço.

*06/06/2010 - notei que faltava algo.

*07/06/2010 - não adianta, ele não vai voltar.



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