quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Bondinho da Rua das Flores


toda manhã era a mesma vertigem. algo deve estar dando errado. pensava consigo: -não me importa,bebo 2 xícaras de café e pronto. todas as formigas daquele buraquinho no meio do chão da varanda revelaria que mais cedo ou mais tarde ela se tornaria um enorme tamanduá de unhas afiadas, como em um sonho, analítico por natureza. era o único contato com o mistério. mistério do ser ou mistério do universo? não importa, pensava: -Consigo!



Um belo dia de primavera fora de época percebeu que um punhado de formigas se aglomeravam ao pé da cama. até pensou em entrar em pânico, e entre um tempo e outro caiu, foi tomada e engulida por formigas assassinas com fome de três dias. Sua imaginação infantil a embalou nos dias mais cinzas, nos tons mais avermelhados, nas texturas mais caracaxentas de sua pobreza de espírito. ou alma, seja lá o que isso for. mas nada neste mundo de pecadores e frívolos substituía o prazer de matar formigas indefesas que saíam apavoradas daquele lugarzinho úmido e delas. Era festa o que acontecia lá dentro? eram caminhos sem volta? Por que um adulto se preocuparia com o risco de ser picado por uma formiguinha? e por que ela havia se tornado um tamanduá selvagem? São perguntas tolas sem resposta.