segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

fast scene

muda-se o Cáucaso.



uma mulher. distinta.

visível abalo emocional. luz de rua. sapatos nas mãos.
[pega o celular. disca]

mulher: -Alô? Dona Brígida, chama seu filho pra mim por favor... é urgente. Como ele não vai mais me atender? A senhora virou menino de recado agora? Sabe o que o seu filho é? Um idiota! Um estúpido, isso sim... um ba... puta merda, me desligou na cara! É só eu falar umas verdades que ela não aguenta.[para o telefone] Filho da puta! Filho da puta! Desgraçado filho da puta... Teu filho dona Brígida... é um desgraçado filho da puta!

[à parte com marcha nupcial]

-Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... por todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe. Hãn, vá à merda!
Eu era toda dele, tudo era pra ele, cada pedaço de mim, cada tira que me envolvia era praquele filho duma puta miserável. Um vampiro! Sempre estranhava a forma como eu deixava as unhas cortadas, reparava uns detalhes tão... improváveis... Me abraçava duma forma sufocante. Dizia que era o abraço de urso, quebra ossos. Me fudeu esse desgraçado. Eu percebi que ele andava meio estranho, pensei que fosse a pressão do casamento chegando, talvez alguma coisa no trabalho, pensei até em macumba! O desgraçado me foge. Disse que ia alí comprar cigarro, ok, depois que eu me liguei e vi, peraí, ele não fuma! Que diabo ele vai fazer indo comprar cigarro? Mensagem subliminar, queria me avisar que não voltaria... eu burra, só vi quando percebi que ele tinha levado uma tarde inteira na rua pra buscar uma merda dum cigarro.
[acende um cigarro] O desgraçado tava é bem com outra, e outra... e outra... Bancava o Rachid com as [faz um gesto] idiotas. Como eu fui idiota, puta merda... Mulher burra!

[volta, pega o celular]

Última tentativa... 9-8-7-6-5-4-3-2... ateeeende... atende! Caiu! Alá! Esse filho da puta tá vivo e me deve uma boa desculpa!

[sai enfurecida de cena. Entra um rapaz bem afeiçoado.]

-Elas gostam. Eu falo não.. mas elas insistem... são umas cachorras mesmo... eu prefiro assim. Do meu jeito! [ensaia como se tivesse de frente para um espelho]
-Não Gisele... agora não... tô com dor de cabeça... amanhã tá certo? Amanhã te pego gostoso com direito a mordidinha [pisca] hãn. Beijo gata. Não Angela... tenho uma reunião daqui a uma hora tô encrencado...amanhã a gente se afoga na banheira do parquinho... beijo gatinha... Agora não Solange! Você sabe que eu não posso deixar a mamãe sozinha no mercado... amanhã você passa lá em casa... beijo gata delícia do Gugu!

ÀS vezes eu acho que pode dar merda, confesso, mas essa adrenalina me dá uma tesão! Recusar meu amigo, é a chave do sucesso... elas voltam se arrastando feito umas cachorras, e eu gosto dessa cerimônia, sou louco por uma cadela!

[tiros, o referido moço cai baleado]

mulher: -Pois vá comer suas cadelas no inferno seu desgraçado! Tá pensando o quê? Ia passar batido? Ha! Ri melhor quem ri por último. E EU, ouviu bem? EEEU ri por último, EEEu dei fim na sua festinha, seu bosta! Antes de cheirar o rabo duma cadela, se certifique que ela não guarde ressentimentos, que ela não seja capaz de perder noites de sono esperando o cachorrão chegar junto. Filho da puta. Filho da puuuuta! [chuta o referido moço] Tava pensando que ia me deixar e ia ficar barato? [chuta] Hãn? Tava pensando que ia sair pra esbórnia e a cadelinha indefesa aqui ia ficar em casa chupando osso enquanto o bonitão arrastava mais cadelinhas pra carrocinha? [chuta] Essa é pra você aprender [chuta] Essa é pra você me pagar [chuta] Essa é pelo aluguel do vestido [chuta] Essa é pelo bolo [chuta] Esse é pelo buraco que você abriu aqui óh [atira]. Você acabou com qualquer coisa que eu podia um dia carregar de bonito em mim...


[...]

preciso dormir.
às vezes é melhor ser uma ameba.
não existe drama na vida de uma ameba.
uma ameba não chora, não ri, não sabe.
é melhor ser uma ameba.