quinta-feira, 18 de agosto de 2011

quase confessional




hoje, um dia comum, com ar seco, sol, lacaio à porta, anotando a hora que entro e saio, frio na espinha, abro o memorando, sirvo duas senhoras que me entreolham e coxixam ao meu respeito, licor barato, pego duas notas que me escapam à memória, fixo na retina um apanhado de espinhos, entre a tela e o vidro uma imagem nebulosa. É melhor eu começar a esquecer, penso em arquitetar um meio mais eficaz para uma degradação parcial da memória. o lixo imaterial que acumulo entre os martelos, os cílios, as esfinges. que continuam coxixando a meu respeito. marquei dois pontos no céu. onde começo a lembrar e onde começo a morrer. uma escada lúgubre partindo do seio esquerdo com uma manilha de concreto acoplada ao útero dão o suporte. Tenho uma lembrança doce de um dia aberto, tenho uma saliva embalada a vácuo que contém a febre que me tornou esta figura hedionda a beira de um colapso nervoso. que ao fogo da paixão. exala uma efusão cataclísmica. perigosíssima. a confusão surge no ponto A que seguindo a tangente B não consegue atravessar o abismo C. a matemática do precipício. largo túnel. corrente marítima. Este é o ponto de corte. na massa que leva sangue, veneno, ervas finas, resíduo plástico, aquela expressão de abandono que cifrei na infância, meus saltos na escadaria do convento. tudo incinerado. posso acordar amanhã tranquila.

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