domingo, 29 de julho de 2012

mea culpa / voluntas ad mortem / panicus at circensi

se a minha tristeza me consumisse seria um favor prestado. eu queria afundar em  terra quente. eu queria sumir do mapa, deixar de existir, eu tenho vergonha de existir às vezes. eu tenho muita vergonha de mim. e queria muito me esbofetear, me machucar, ferir bem fundo qualquer parte do corpo, só pra  lamber a viscosidade do sangue, besuntá-lo na pele. meu sangue sujo. que a morte é insuficiente. morrer a cada esquina me hipnotiza, parafusa. a víbora sedutora. a serpente de duas caras. a família incestuosa. o cadáver da gaveta. precisaria de longas sessões de choque. eu não quero. eu não quero. EU NÃO QUERO. eu não quero. você pode fazer o que quiser comigo. não tenho dono, não tenho pai, não tenho nada. tudo em mim perde valor. tudo caduca. um homem forte e voraz daria conta. pode fazer o que quiser comigo. pode me mandar embora. pode sentir pena. muita pena. pode comer minha alma. pode cuspir meu sangue. faça o que você quiser comigo. que eu mereço. eu mereço cada cicatriz que você deixar. eu mereço seu ódio. eu mereço seu desprezo. eu mereço seus tapas. eu mereço muita surra. muita infâmia. me xingue, cuspa em mim, suma comigo. que eu quero a morte mais violenta e sanguinária que o jornal tem pra hoje. apenas me mate. que meu desejo de morrer é tão confuso quanto o amor que tenho por você. mea culpa. o que não tem limite, o que não morre e não alcança o céu. o que ficou debaixo do tapete.o que ficou mal explicado.
eles vem me buscar cedo. fica calmo. ela vai me destruir devagar e mastigar cada pedacinho meu com a calma de uma serpente. ela quer me ver destruída e sob controle. cheira minha ruína e cava um poço só pra mim. ela afinou os ouvidos pra escutar as minhas mentiras. ela afiou a língua pra me dividir. e vai aguçar cada sentido pra me sufocar com propriedade. ninguém escuta quando eu digo que me machucam. é drama barato. e a audiência se aborrece rápido. eles esquecem. esquecem de mim alí na frente deles. esquecem que antes de tudo, antes do mundo, vinha parte de mim montada em cavalo branco e outra parte devorando estrelas. eu caminhava sob céu de outono com poesia e reparava nos folículos da folhagem desmaiada. eu reparava na sua força. eu queria te amar sem paradoxo. sem contradição. sem misantropia.

ainda desejo algo maior, puro, íntegro. e maus passos tenho dado. mea culpa.

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